O conceito de geoeconomia ganhou uma força significativa na era pós-Guerra Fria, à medida que os líderes globais reconhecem cada vez mais as limitações e as consequências catastróficas dos conflitos militares tradicionais, particularmente da guerra nuclear. É amplamente compreendido entre os líderes políticos de todo o mundo que nenhum partido pode sair vitorioso num conflito nuclear, levando a uma crescente dependência de medidas comerciais e económicas como instrumentos de poder e influência. Este projecto de investigação explora a utilização crescente de estratégias geoeconómicas – onde são utilizadas ferramentas económicas para alcançar objectivos geopolíticos – e as suas implicações para a segurança nacional e a política externa.
O estudo começa por examinar o contexto histórico que facilitou a mudança da força militar para a alavancagem económica como meio de governação. Com o fim da Guerra Fria, as divisões ideológicas e estratégicas da ordem global deram lugar a novas formas de competição. Em vez de se envolverem em confrontos militares directos, os estados recorreram cada vez mais às políticas económicas para prosseguir os interesses nacionais. O comércio, o investimento e os instrumentos financeiros surgiram como alternativas potentes aos instrumentos militares tradicionais, capazes de exercer uma pressão significativa sobre os adversários, evitando ao mesmo tempo a devastação do conflito armado.
O projecto explora a forma como as estratégias económicas se entrelaçaram com as questões de segurança nacional. Por exemplo, as sanções comerciais, os controlos às exportações e as restrições ao investimento são frequentemente utilizados para atingir países considerados ameaçadores da ordem global ou da estabilidade regional. Estas medidas são muitas vezes justificadas com base na salvaguarda da segurança, na contenção da proliferação de tecnologias perigosas ou na resposta a violações dos direitos humanos. Ao mesmo tempo, são utilizadas ferramentas económicas para fortalecer as alianças, recompensar o cumprimento ou garantir o acesso a recursos críticos, sublinhando ainda mais o seu duplo papel como mecanismos punitivos e de incentivo.
Além disso, a investigação investiga o papel da geoeconomia na política externa. Os Estados utilizam cada vez mais a interdependência económica como fonte de influência, alavancando o seu controlo sobre as cadeias de abastecimento globais, os produtos estratégicos e o acesso ao mercado para moldar o comportamento de outras nações. Por exemplo, iniciativas como a Iniciativa Faixa e Rota da China destacam a implantação estratégica de investimentos económicos para expandir a influência geopolítica, enquanto a utilização de sanções comerciais pelos Estados Unidos demonstra a relevância duradoura das medidas económicas na resposta às preocupações de segurança global.
O estudo aborda também os desafios éticos e práticos associados à transformação do comércio em armas. Embora os instrumentos económicos possam parecer menos destrutivos do que as intervenções militares, os seus impactos podem ser graves, especialmente para as populações vulneráveis nos países visados. A investigação investiga as consequências não intencionais das estratégias geoeconómicas, tais como a desestabilização económica, as medidas de retaliação e a erosão da cooperação multilateral. Além disso, considera os potenciais riscos colocados pela excessiva dependência de medidas geoeconómicas, incluindo a escalada de tensões e a fragmentação do sistema económico global.
Através de uma combinação de estudos de caso, análise política e exploração teórica, este projeto de investigação pretende fornecer uma compreensão abrangente da geoeconomia como uma característica definidora das relações internacionais contemporâneas. Ao analisar a evolução do papel do poder económico na governação global, o projecto procura informar futuros debates sobre como equilibrar as ferramentas económicas com considerações éticas e garantir que as estratégias geoeconómicas contribuem para uma ordem internacional mais estável e equitativa.
Equipa de Investigação
Prof. Doutor Pedro Infante Mota
Prof. Doutor Miguel Moura e Silva
Prof. ª Doutora Rute Saraiva
Prof. Paulo Alves Pardal
Patrícia Bastos
Salvador Laurino
Prof. Filipe Vasconcelos Fernandes
Márcio Bobik
Duração: 2026-2029
Forthcoming